Na postagem anterior, fiz umas declarações que repito aqui:
Lembremos que a Torre interpreta as palavras de Jeremias como uma declaração de que Jerusalém ficaria desabitada por 70 anos, que esse período de tempo começa a ser contado a partir da destruição de Jerusalém pelo exército de Nabucodonosor.
Em um primeiro momento precisamos esclarecer que Torre de Vigia e historiadores estão de acordo que Nabucodonosor destruiu Jerusalém no seu 18º ano de reinado, que correspondia ao 11º ano de reinado de Zedequias, o último rei de Judá; que Zedequias sucedeu a Jeoiaquim, que reinou por quase 11 anos também (Joaquim reinou por 3 meses após a morte de Jeoiaquim, até ser substituído por Zedequias). Quando se subtrai os 18 anos de reinado de Nabucodonosor da soma dos reinados de Jeoiaquim e Zedequias, descobrimos que ele começou a reinar no 4º ano do reinado de Jeoiaquim. Todas as informações aqui podem ser visualizadas na imagem abaixo. As datas foram eliminadas porque são irrelevantes para o esclarecimento que se pretende aqui.
De posse dessas informações, estamos prontos para abrir a Bíblia e ler a profecia de Jeremias:
Quando disseram a Russell, lá pelo fim do século XIX, que Jerusalém ficaria desolada, devastada, desabitada, por 70 anos, para cumprir essa profecia, era de se esperar que ele abrisse a Bíblia e checasse se o livro sagrado diz exatamente isso.
Não, não diz.
No texto estão assinaladas três declarações relacionadas com a profecia:
1 - A terra de Judá seria arruinada em resultado do ataque de Nabucodonosor;
2 - As nações ao redor de Judá serviriam ao rei de Babilônia por 70 anos;
3 - No fim dos 70 anos, Deus ajustaria contas com o rei de Babilônia.
O item 2 destrói completamente a interpretação da Torre de Vigia. Os 70 anos da profecia nada tem a ver com a terra de Judá e Jerusalém, mas refere-se às nações vizinhas. Diz-se de forma bem explícita que essas nações serviriam ao rei de Babilônia por 70 anos.
O conceito de servidão é repetido outras vezes nesse contexto, como no capítulo 27.
Na passagem acima lemos ainda que, caso a nação aceitasse se sujeitar ao rei de Babilônia, ela permaneceria em sua terra (logicamente com a obrigação de pagar tributos ao rei), e a punição, o exílio, só viria se a nação mostrasse insubordinação. Judá mostrou insubordinação e foi levada ao exílio no fim do reinado de Zedequias, quando Jerusalém foi destruída.
Levando em conta o que está escrito na profecia, podemos pôr à prova a interpretação da Torre de Vigia de pelo menos duas maneiras:
1 - verificar sobre quando foi que teve início o cumprimento da profecia, isto é, quando foi que nações vizinhas de Jerusalém começaram a ser postas sobre a autoridade de Babilônia (item 2).
2 - verificar quando foi que terminou os 70 anos e se ajustou contas com o rei de Babilônia (item 3).
Esses assuntos serão discutidos nas próximas postagens.
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De acordo com os historiadores, entre a destruição de Jerusalém (587 a.C.) e a queda de Babilônia (539 a.C.) passaram-se 48 anos. Como a Torre de Vigia entende que os 70 anos se referem à terra de Judá, a serem contados a partir da destruição de Jerusalém, ela é obrigada a recuar em 20 anos a data da destruição de Jerusalém para acomodar os 70 anos neste intervalo de tempo. Como resultado, acontece o que se pode descrever como efeito dominó: de forma arbitrária, todas as datas dos acontecimentos que antecederam à destruição de Jerusalém são recuados em cerca de 20 anos.
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