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Informações sonegadas nos livros de estudo

No meu livro dedico grande parte do primeiro capítulo a mostrar que a Torre de Vigia sonega informações dos estudantes, e isso faz que eles tomem decisões, sobre se entram ou não para a religião, com base em informações mínimas e insuficientes. Se decidem não entrar, tudo bem; se entram, podem descobrir depois que não foram devidamente informados sobre alguns detalhes cruciais da nova fé. Sabe aquelas letras miúdas dos contratos, que quem assina ser ler pode eventualmente ver-se em apuros legais? É quase sempre o o que acontece quando alguém se torna Testemunha de Jeová.

Estou gradualmente postando o meu livro em um blogspot. Parte dele, relacionado ao que escrevi acima, pode ser lido aqui.

Referente a suas datas, a Torre de Vigia faz a mesma coisa. Vou postar neste tópico como ela aborda o assunto nos livros de estudos, e começo por tratar do livro Poderá Viver Para Sempre, que foi onde aprendi a "verdade". 

Quando houve essa guerra no céu? A evidência indica que aconteceu por volta do tempo da Primeira Guerra Mundial, a qual começou em 1914.

Fala-se sobre evidência, mas não se apresenta evidência alguma. O livro começa com imagens de paraíso, talvez para pegar alguns com a isca do materialismo, e depois discorre sobre Diabo, Deus, religião falsa, Jesus Cristo, objetivo da vida, morte, inferno, demônios, governo de Deus, soberania, vida celestial e outros temas. Somente no capítulo 16 é que apresenta uma limitada evidência para validar a data de 1914. A esse tempo, qualquer estudante que chegar  a esse capítulo, provavelmente depois de quase um ano de estudo, quase com certeza já foi convencido a se tornar Testemunha, e pode estar muito desprevenido quando finalmente se deparar as as tão esperadas "provas". Considerando a pouca chance de ser uma pessoa escolarizada, as evidências, mesmo que limitadas, podem ser tomadas como verdadeiras sem qualquer exame aprofundado que o assunto merece.

Veja abaixo parte do capítulo 16. Observe que não se apresenta qualquer evidência histórica de que Jerusalém foi destruída em 607 aC. Simplesmente faz-se essa afirmação duas vezes e espera-se que a pessoa tome isso como verdade. 

O governo de Deus inicia seu domínio 

16 No devido tempo, o reino de Judá, que Jeová estabelecera, se tornou tão corrupto que ele permitiu ao Rei Nabucodonosor que o destruísse, que o cortasse. Isto aconteceu no ano 607 A.E.C. Naquela época, Zedequias, o último rei de Judá a se sentar no trono de Jeová, foi informado: “Retira a coroa. . . . certamente não virá a ser de ninguém, até que venha aquele que tem o direito legal, e a ele é que terei de dá-lo.” — Ezequiel 21:25-27. 

17 De modo que o reinado de Deus, conforme representado pela “árvore”, foi cortado em 607 A.E.C. Não mais existia um governo para representar o reinado de Deus na terra. Assim, em 607 A.E.C. começou um período de tempo ao qual mais tarde Jesus Cristo se referiu como “os tempos designados das nações”, ou, “os tempos dos gentios”. (Lucas 21:24; Almeida, rev. e corr.) Durante esses “tempos designados” Deus não tinha um governo para representar seu reinado na terra. 

18 Que havia de acontecer no fim desses “tempos designados das nações”? Jeová havia de dar o poder para dominar àquele “que tem o direito legal”. Este é Jesus Cristo. Assim, se descobrirmos quando terminam “os tempos designados das nações”, saberemos quando Cristo começa a dominar qual rei. 

19 Segundo Daniel capítulo quatro, esses “tempos designados” seriam “sete tempos”. Daniel mostra que haveria “sete tempos” durante os quais o reinado de Deus, conforme representado pela “árvore”, não estaria em operação sobre a terra. (Daniel 4:16, 23) Qual a duração desses “sete tempos”? 

20 Em Revelação, capítulo 12, versículos 6 e 14, verificamos que 1.260 dias são iguais a “um tempo, e tempos [isto é, 2 tempos] e metade de um tempo”. Isto dá um total de 3 tempos e meio. Assim, “um tempo” seria igual a 360 dias. Portanto, “sete tempos” seriam 7 vezes 360, ou 2.520 dias. Agora, se fizermos cada dia valer um ano, segundo uma regra bíblica, os “sete tempos” equivalem a 2.520 anos. — Números 14:34; Ezequiel 4:6. 

21 Já aprendemos que “os tempos designados das nações” começaram no ano 607 A.E.C. Assim, por contarmos 2.520 anos a partir daquela data, chegamos a 1914 E.C. Este é o ano em que esses “tempos designados” findaram. Milhões de pessoas ainda vivas lembram-se das coisas que aconteceram em 1914. Naquele ano, a Primeira Guerra Mundial desencadeou um período de terrível aflição que tem continuado até os nossos dias. Isto significa que Jesus Cristo começou a dominar qual rei do governo celestial de Deus em 1914. E, visto que o Reino já começou seu domínio, quão oportuno é que oremos para que “venha” e extermine da terra o iníquo sistema de coisas de Satanás! — Mateus 6:10; Daniel 2:44.


O capítulo resume tudo numa imagem:




Quem, honestamente, pode dizer que se trata de uma atitude honesta por parte da religião? Mais corretamente, não se assemelha isso às tão faladas letras miúdas de um contrato?

O livro Conhecimento substituiu o livro Poderá Viver Para Sempre; a versão que tenho é de 1995, não lembro se foi lançado nesse ano. O Conhecimento é ainda mais sucinto do que o anterior. De novo, nada de tratar do assunto nos capítulos iniciais; quando o faz, no capítulo 10, nenhuma prova histórica para a data de 607 a.C. é apresentada. Apenas se faz a afirmação e ponto final.

O Reino de Deus já domina 16 A única cidade na Terra sobre a qual Jeová colocou o seu nome foi Jerusalém. (1 Reis 11:36) Era também a capital de um reino terrestre, aprovado por Deus, e figura representativa do Reino celestial de Deus. Assim, a destruição de Jerusalém pelos babilônios, em 607 AEC, foi muito significativa. Este evento marcou o começo duma longa interrupção da regência direta de Deus sobre seu povo na Terra. Uns seis séculos mais tarde, Jesus indicou que esse período de interrupção ainda vigorava, pois ele disse: “Jerusalém será pisada pelas nações, até se cumprirem os tempos designados das nações.” — Lucas 21:24. 

17 Durante “os tempos designados das nações”, os governos seculares teriam permissão de manter interrompido o governo aprovado por Deus. Esse período começou com a destruição de Jerusalém, em 607 AEC, e Daniel indicou que se estenderia por “sete tempos”. (Daniel 4:23-25) Qual é a duração disso? A Bíblia mostra que três “tempos” e meio equivalem a 1.260 dias. (Revelação 12:6, 14) O dobro desse período, ou sete tempos, seria 2.520 dias. Mas nada de notável ocorreu no fim desse curto espaço de tempo. Contudo, se atribuirmos “um dia por um ano” à profecia de Daniel e contarmos 2.520 anos a partir de 607 AEC, chegaremos ao ano 1914 EC. — Números 14:34; Ezequiel 4:6.


O livro Bíblia Ensina substituiu o Conhecimento no ano de 2005. Neste livro, a data de 607 não é abordada em nenhum momento nos 19 capítulos, mas foi jogada para uma apêndice com o título 1914 — um ano significativo na profecia bíblica.

De novo, nenhuma prova é apresentada para a data. Como dantes, somente se faz uma afirmação (Conferir aqui e aqui).

1914 — um ano significativo na profecia bíblica. Como e quando, então, o governo de Deus começou a ser ‘pisado pelas nações’? Isso aconteceu em 607 AEC, quando Jerusalém foi conquistada pelos babilônios. O “trono de Jeová” ficou vago, e a dinastia de reis descendentes de Davi foi interrompida. (2 Reis 25:1-26) Será que esse ‘pisar’ seria eterno? Não, pois a profecia de Ezequiel disse o seguinte a respeito do último rei de Jerusalém, Zedequias: “Remova o turbante e retire a coroa. . . . Ela não será de ninguém até que chegue aquele que tem o direito legal; eu a darei a ele.” (Ezequiel 21:26, 27) “Aquele que tem o direito legal” à coroa davídica é Cristo Jesus. (Lucas 1:32, 33) Assim, o ‘pisar’ terminaria quando Jesus se tornasse Rei.


Os 2.520 anos começaram em outubro de 607 AEC, quando Jerusalém caiu diante dos babilônios e o rei da dinastia de Davi foi destronado. O período terminou em outubro de 1914. Naquele tempo, terminaram “os tempos determinados das nações” e Jesus Cristo foi empossado como Rei celestial de Deus. — Salmo 2:1-6; Daniel 7:13, 14.

Uma imagem resume toda a explicação:



A novidade do livro é uma nota de rodapé que aponta para o verbete Cronologia, do Estudo Perspicaz. O verbete, como veremos em uma postagem futura, procura apresentar provas históricas para a data de 607 aC.

De outubro de 607 AEC a outubro de 1 AEC são 606 anos. Visto que não há ano zero, de outubro de 1 AEC a outubro de 1914 EC são 1.914 anos. Somando 606 anos a 1.914 anos chega-se ao total de 2.520 anos. Para informações sobre a queda de Jerusalém em 607 AEC, veja o verbete “Cronologia” em Estudo Perspicaz das Escrituras, publicado pelas Testemunhas de Jeová.

Mas, dentre todos os estudantes que passaram por essa fase do livro, quantos realmente buscaram confirmação dessa data no tal Perspicaz?

No ano de 2016 foi lançado o livro Você pode entender a Bíblia, para substituir o Bíblia Ensina. Como no livro anterior, o assunto sobre 607 é abordado apenas no apêndice.

Segue-se também o padrão. Nade de apresentar para o estudante qualquer prova histórica sobre a data de 607 aC. Nesse livro é o mais sucinto dentre os já analisados, e é eliminado a recomendação para se consultar o verbete Cronologia do Perspicaz.

O que essa profecia significa? Na profecia, a árvore é o governo de Deus. Por muitos anos, Deus governou a nação de Israel usando reis em Jerusalém. (1 Crônicas 29:23) Mas esses reis nem sempre foram obedientes a Deus. Então, Deus decidiu parar de usar reis para governar em seu nome. Isso era como derrubar a árvore e não deixar a árvore crescer por “sete tempos”. Esses “sete tempos” começaram quando Jerusalém foi destruída, no ano 607 antes de Cristo. (2 Reis 25:1, 8-10; Ezequiel 21:25-27) Os “sete tempos” ainda não tinham terminado quando Jesus esteve na Terra. Ele mostrou isso quando disse: “Jerusalém será pisada pelas nações até se cumprirem os tempos determinados das nações.” Os “tempos determinados” eram os “sete tempos”. (Lucas 21:24) Na profecia, a árvore voltaria a crescer no fim dos “sete tempos”. Jeová prometeu escolher um novo rei. Esse Rei é Jesus. O governo de Jesus vai durar para sempre e vai fazer coisas boas para todos. — Lucas 1:30-33. Quanto duraram os “sete tempos”? Os “sete tempos” duraram 2.520 anos. Eles começaram no ano 607 antes de Cristo e terminaram no ano 1914. Foi nesse ano que Jeová coroou Jesus Cristo como Rei do Reino no céu.

Apenas cinco anos depois de ser lançado o livro Você pode entender a Bíblia, a Torre de Vigia lança o seu substituto, com o nome Seja Feliz para Sempre. É um livro voltado para o mundo online, embora tenha também a sua versão impressa e PDF. É um livro para ser estudado preferencialmente pelo tablet. Diferente dos anteriores, que abundavam em textos e algumas imagens, este agora abunda em vídeos e pequenos quadros com frases chaves.

E só para não fugir ao método, o ano de 607 é quase que praticamente esquecido; fica soterrado num amontado de informações e dificilmente pode ser encontrado, a menos que se faça um estudo sistemático do livro, de modo a abranger cada detalhe. É atualmente improvável que isso aconteça. (Conferir PARTE 2, lição 32).




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Sumário

PARTE I - CONCEITOS E INTRODUÇÃO 01 - 1914 - O calcanhar de Aquiles da Torre de Vigia 02 - Informações sonegadas nos livros de estudos 03 - O depoimento de Raymond Franz 04 - A reação do Corpo Governante às pesquisas de Jonsson 05 - Confusão matemática nos cálculos da Torre 06 - Combinação ano a ano / Reis de Babilônia, Judá e Egito 07 - O cativeiro da Babilônia Os 70 anos 08 - Os 70 anos da profecia 09 - O que realmente diz a profecia dos 70 anos 10 - Sobre quando Babilônia se tornou potência regional 11 - Sobre quando começou e terminou o período de dominação 12 - Como ler Daniel 1 13 - Setenta anos "em" Babilônia? 14 - Os "70 anos" de Daniel e Crônicas 15 - Os "70 anos" de Zacarias Os "Sete Tempos" 16 -  Os "sete tempos" - significam mesmo 2520 anos? 17 - Jesus Cristo - quando realmente se tornou rei? PARTE II - CRONOLOGIA RELATIVA 18 - Cronologia relativa - fontes e metodologia 19 - Os reis da era neobabilônica 20 - ( Evid 1 )  His...

Projeto 1914 - conclusão

A Torre de Vigia já publicou vários artigos incentivando as Testemunhas a buscarem conhecimento para fortalecer a fé. Por exemplo, na edição de A Sentinela de 1990, depois de citado o bom exemplo dos bereanos, foi escrito o seguinte: Não menos meritória foi a atitude dos profetas de Deus da antiguidade. Eles fizeram “diligente indagação e cuidadosa pesquisa” a respeito da salvação que havia de vir por intermédio do Messias. (1 Pedro 1:10) Deus abençoou seus esforços. É óbvio, pois, que não há atalhos. Buscar ensinamentos com persistência e examiná-los com cuidado — este é o caminho para se descobrir toda a verdade da Bíblia! ( A Sentinela de 15 de setembro de 1990, página 7). Os incentivos da Torre de Vigia para que se busque conhecimento são louváveis por si só. No entanto, há um problema sério que não pode ser ignorado: a Torre de Vigia exige que as Testemunhas considerem a liderança da religião como sua única fonte de pesquisa, aceitando o conhecimento transmitido por ela sem ...

Eclipses lunares

As nove evidências fornecidas até agora são mais do que suficientes para confirmar a correção da ideia de que Jerusalém foi destruída pelos babilônios em 587 a.C. Mesmo sem as primeiras sete evidências, as duas últimas são absolutas, independentes de outras, e por si só constituem provas definitivas da precisão da data de 587 a.C. Portanto, esta última evidência, relacionada aos eclipses lunares, apenas se adiciona às várias outras evidências que, até agora, foram pouco defendidas ou nem mesmo abordadas pela Torre de Vigia. As informações sobre eclipses neste artigo foram analisadas com base nos dados gerais apresentados na introdução do artigo sobre posições lunares . Além disso, é importante considerar o conteúdo das notas 1 e 2 do referido artigo bem como também consultar o artigo Calculando hora de início e término de eclipse . As fontes utilizadas incluem o livro "Babylonian Eclipse Observations from 750 BC to 1 BC", de Peter J. Huber e Salvo De Meis, assim como o arquiv...