Uma excelente prova da exatidão de uma cronologia é quando ela está em harmonia com as cronologias de outras nações contemporâneas, desde que estas outras cronologias tenham sido estabelecidas de modo independente e existam sincronismos, ou seja, conexões datadas que sirvam para unir as duas ou mais cronologias em um ou mais pontos (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, página 163).
Na discussão desse assunto em meu livro, fiz uma analogia com o que ocorre com os países que compõem o Mercosul. Foi em 1991 que os presidentes do Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina se reuniram em Assunção e assinaram o Tratado de Assunção, que criou o Mercosul - o que aqui defino como ponto de contato. Se a cronologia do Brasil fosse recuada em 20 anos, de modo a colocar a assinatura do Tratado de Assunção em 1971, a cronologia dos demais países do bloco teria de recuar concordemente; de outro modo, a foto oficial da assinatura do tratado teria outras pessoas.
Quando a Torre de Vigia recua em 20 anos a data da destruição de Jerusalém, ela necessariamente recua em 20 anos a cronologia de Babilônia - e também a cronologia do Egito, visto que, por aquela época, a história do Egito se entrelaça com a história de Judá e Babilônia em pelo menos quatro pontos de contatos.
Se a cronologia egípcia paralela ao período neobabilônico pode ser estabelecida de forma independente, é de se esperar que ela concorde com a cronologia de Babilônia, conforme estabelecida nos artigos anteriores - do mesmo modo que é natural concluir que os presidentes que assinaram o Tratado de Assunção em 1991 governavam seus respectivos países naquele mesmo ano de 1991, não em anos diferentes.
Examinemos.
A cronologia do Egito paralela ao período neobabilônico abrange o período histórico da 26º dinastia (664-525 a.C.), e a maneira particular de contar idades naquela época permite que a cronologia egípcia seja estabelecida de forma independente.
A cronologia dos reis da 26ª dinastia, de Psamético I em diante, é completamente estabelecida por meio de uma série de lápides e colunas sagradas do touro Ápis, as quais especificam a data de nascimento no ‘dia x do mês y do ano z do rei A’ e a data da morte no ‘dia x do mês y do ano z do rei B, bem como o período de vida do [touro ou pessoa] em termos de anos, meses e dias (Dr. F. K. Kienitz, conforme citado em Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, página 165).
O método de cálculo descrito acima pode ser visualizado em exemplos nesta imagem. Graças a esse método, foi determinado com precisão a duração dos reinados dos quatro primeiros reis da 26º dinastia. Amásis e Psamético III completam a lista de seis nomes, mas a duração dos seus reinados foram determinadas por outras fontes, incluindo documentos datados (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, páginas 164-171).
Com isso, esta é a lista completa dos reis da 26º dinastia com a duração de seus respectivos reinados:
- Psamético I – 54 anos (664-610 a.C.);
- Neco II – 15 anos (610-595 a.C.);
- Psamético II – 6 anos (595-589 a.C.);
- Ápries (Hofra) – 19 anos (589-570 a.C.);
- Amásis – 44 anos (570-526 a.C.);
- Psamético III – 1 ano (526-525 a.C.).
Até este ponto em raras ocasiões chamei a atenção para as datas de início e fim de reinados do período neobabilônico, elas não eram necessárias; mas por agora, com o objetivo de fazer comparação entre essas duas cronologias, considero importante apresentar as datas, conforme foram confirmadas vez após vez nas seis evidências já apresentadas. Ei-las abaixo:
- Nabopolassar - 21 anos (625-605 a.C.)
- Nabucodonosor - 43 anos (604-562 a.C.)
- Evil-Merodaque - 2 anos (561-560 a.C.)
- Neriglissar - 4 anos (559-556 a.C.)
- Labashi-Marduque - 2/3 meses (556 a.C.)
- Nabonido - 17 anos (555-539 a.C.)
Visto que a cronologia babilônica e egípcia foram assim determinadas de forma independentes, elas estão na mesma situação de duas testemunhas que depõem no tribunal e que tem-se a garantia que não se encontraram para combinar depoimentos. Dessa forma, as cronologias de Babilônia e Egito podem ser colocadas lado a lado, tal como no gif abaixo, e os quatro pontos de contatos podem ser verificados de modo a observarmos se um recuo de 20 anos na data da destruição de Jerusalém é compatível com as datas dessas cronologias.
No gif, a imagem à esquerda representa um recuo de 20 anos em relação às cronologias fixas de Egito e Babilônia; as quatro setas indicam os quatro pontos de contato na ordem em que são analisados abaixo.
Contato 1 => Josias foi morto pelo faraó Neco. O recuo de 20 anos coloca esse evento em 629 a.C. Porém, de acordo com o gif, Neco sequer havia assumido o trono no Egito; isso ocorreria apenas em 610 a.C., conforme a segunda imagem. Josias foi morto no ano seguinte, em 609 a.C.
Contato 2 => No ano em que Nabucodonosor ascende ao trono, trava-se a batalha de Carquemis, e o faraó Neco sai derrotado. Diz-se que ocorreu no quarto ano de Jeoiaquim. Porém, o recuo de 20 anos coloca esse evento no começo do reinado de Nabopolassar, e, como no caso anterior, o faraó Neco só se tornaria rei em 610 a.C.; não poderia, portanto, estar em guerra com Nabucodonosor 20 anos antes.
Contato 3 => Pelo contexto de Jeremias 44, vê-se que se trata de eventos logo após a queda de Jerusalém; envolve palavras destinadas ao faraó Apriés (Hofra), que assume o trono do Egito em 589 a.C. Porém, um recuo de 20 anos coloca a destruição de Jerusalém durante o reinado do faraó Neco (610-595 a.C); se assim fosse, a Bíblia citaria Neco, não Hofra.
Contato 4 => Um recuo de 20 anos coloca o 37º ano de Nabucodonosor em 588 a.C. No entanto, esse ano corresponde apenas ao 2º ano do faraó Hofra (589-570 a.C.), que ainda reinará por mais de 15 anos. Se levado em conta as cronologias fixas de Egito e Babilônia, que coloca o 37º de Nabucodonosor em 568 a.C., então isso dá sentido à referência ao faraó Amásis, que começa a reinar dois anos antes, em 570 a.C.
[Como visto acima] nenhum dos quatro sincronismos com a cronologia egípcia, estabelecida independentemente, concorda com a cronologia desenvolvida pela Sociedade Torre de Vigia. A discrepância nessa contagem da Sociedade está numa constante desarmonia de aproximadamente vinte anos. É interessante, porém, que todos os quatro sincronismos estão em perfeita harmonia com as datas a que se chegou com base nas outras linhas de evidências que foram discutidas. De modo que estes sincronismos com a cronologia egípcia acrescentam mais uma linha de evidência às outras que apontam constantemente para 587 A.E.C. como a data definitiva para a destruição de Jerusalém (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, página 173).
O outro lado
A obra Estudo Perspicaz das Escrituras dedica oito parágrafos à cronologia do Egito; a quase totalidade deles é investida na tentativa de mostrar que há muita incerteza sobre as datas da cronologia desse país, e que, portanto, não convém aceitar os dados dos historiadores.
É muito natural que o nível de incerteza sobre dados históricos sobre um país aumente à medida que se recua no tempo, e os próprios historiadores costumam fazer esse alerta. Sobre o Egito antigo, a Torre de Vigia chega ao absurdo de dizer que não pode aceitar a cronologia dos historiadores porque eles dataram certos eventos do país por volta de 3000 a.C. e isso seria impossível, alega ela, visto que a história do Egito não poderia começar antes do dilúvio de Noé, que data como tendo ocorrido em 2370 a.C.
Apesar de as alegações da Torre de Vigia terem algum sentido quando discorrem sobre as primeiras dinastias do Egito, e até por volta dos séculos 12 a 10 a.C., elas não procedem quando o assunto é a 26º dinastia, que é o assunto deste artigo; a organização religiosa, no entanto, servindo-se das incertezas para os tempos antigos, rejeitou por completo as datas mais recentes, e tratou da 26º dinastia apenas de passagem, quando deixa escorregar numa frase uma tal discrepância de “uns 20 anos”.
A diferença entre as datas acima e as geralmente atribuídas pelos historiadores hodiernos chega a um século, ou mais, quanto ao Êxodo, e depois se reduz a uns 20 anos no tempo do Faraó Neco (Estudo Perspicaz das Escrituras, verbete cronologia).
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