Assim como as inscrições reais analisadas no artigo anterior, a inscrição Nabon. nº 24, também chamada Estela de Adade-Gupi, foi igualmente produzida durante o reinado de Nabonido. Visto que se trata de documento produzido na época dos acontecimentos, mais uma vez não se pode deixar de salientar o peso que ela tem para o assunto em análise.
A inscrição Nabon nº 24 é uma espécie de biografia, um texto escrito como homenagem à mãe de Nabonido por ocasião do falecimento dela. A inscrição é importantíssima porque, além de confirmar a informação apresentada pela Nabon nº 8, visto no artigo anterior, também apresenta os nomes e a duração de todos os reis babilônicos, de Nabopolassar até a época da sua escrita, no reinado de Nabonido, excetuando-se Labashi-Marduque.
Veja abaixo a transcrição da parte que nos interessa, conforme divulgado por Carl Olof Jonsson. A íntegra do texto em inglês pode ser lida aqui.
Do 20º ano de Assurbanipal, rei da Assíria, quando nasci, até o 42º ano de Assurbanipal, o 3º ano de seu filho Assur-etil-ili, o 21º ano de Nabopolassar, o 43º ano de Nabucodonosor, o 2º ano de Evil-Merodaque, o 4º ano de Neriglissar, durante (todos) estes 95 anos nos quais visitei o templo do grande deus supremo Sin, rei de todos os deuses do céu e do mundo inferior, ele olhou com favor para minhas piedosas boas obras, ouviu minhas orações e aceitou meus votos (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, páginas 134, 135).
Deve-se notar que Assurbanipal e Assur-etil-ili eram reis assírios. Serem eles citados aqui significa que Adade-Gupi viveu inicialmente na época em que a Assíria dominava a região de Babilônia. Durante o breve reinado de Assur-etil-ili, o insurgente Nabopolassar assumiu o controle da região de Babilônia e Adade-Gupi passou a viver sob os domínios dele.
Visto que a inscrição menciona a duração dos reinados de Nabucodonosor, Evil-Merodaque e Neriglissar, e não coloca nenhum outro nome como tendo reinado entre eles, isso é uma confirmação de que os nomes e números apresentados por Beroso e Ptolomeu estão corretos. O nome de Labashi-Marduque está ausente, mas, como ele reinou apenas por dois ou três meses, o seu breve reinado pode ser contado como parte do reinado de Neriglissar, que é de quatro anos. A soma dos reinados (43 +2 +4) é de 49 anos. Se adicionarmos esse número a 555 (primeiro ano do reinado de Nabonido, conforme verificado no artigo anterior), descobre-se que 604 a.C. é o primeiro ano do reinado de Nabucodonosor e isso aponta para 587 a.C. como seu 18º ano de reinado.
O outro lado
Uma revista A Sentinela de 1969 traz um artigo que visa pôr em dúvida as datas dos historiadores para o período neobabilônico. Em um parágrafo cita parte da Nabon nº 24 e chama a atenção para o fato de que a inscrição está tão danificada que o texto não pode ser digno de crédito. O caso é que foi encontrado uma cópia da inscrição e essa está intacta na parte que trata do período neobabilônico. No apêndice que escreveram para o livro Venha o Teu Reino, de 1981, ver-se que a Torre de Vigia passou a ter conhecimento desta cópia intacta, pois cita a inscrição sem fazer qualquer reclamação sobre o estado de preservação, além de mencionar a data da sua descoberta. Apesar disso, não houve nenhuma admissão de que os historiadores, no final das contas, podem estar certos.
Depois de citar a Nabon. nº 24, os registros de Ptolomeu e uma inscrição astronômica, os autores escrevem:
Do ponto de vista secular, tais tipos de evidência talvez pareçam confirmar a cronologia neobabilônica que fixa o 18.º ano de Nabucodonosor (e a destruição de Jerusalém) em 587/6 A.E.C. No entanto, nenhum historiador pode negar a possibilidade de que o atual quadro da história babilônica pode ser enganoso ou errado. Por exemplo, sabe-se que os antigos sacerdotes e reis às vezes alteravam os registros para os seus próprios fins. Ou mesmo quando a evidência descoberta é exata, poderá ser interpretada mal pelos eruditos modernos ou ser incompleta, a ponto de que matéria ainda a ser descoberta poderá alterar drasticamente a cronologia do período em questão (Venha o teu Reino, página 187).
O caso aqui não é necessariamente de evidência insuficiente; é de um apego incondicional à interpretação que se fez e nem essas e nem mais uma dezena de evidências existentes foi capaz de levar a Torre de Vigia a rever seus cálculos que acredita piamente serem baseados na Bíblia.
(Nota: A revista A Sentinela de 1969 aponta inconsistência na Nabon nº 24 no que se refere à idade atribuída a Adade-Gupi, que é de 104 anos. Os historiadores admitem que existem mesmo um erro nas contas. Sabe-se atualmente que Nabopolassar passou a governar a região de Babilônia enquanto Assur-etil-il era rei da Assíria. É atribuído um reinado de três anos a Assur-etil-il, mas, como Nabopolassar começou a governar em Babilônia no primeiro ou segundo ano do seu reinado, é incorreto adicionar à conta a totalidade dos três anos de Assur-etil-il. Dessa forma, atualmente considera-se que Adade-Gupi morreu à idade de 102 anos. Essa inconsistência, no entanto, diz respeito apenas à idade de Adade-Gupi; em nada afeta os dados a respeito do período neobabilônico, que começa com Nabopolassar).
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